Quando a gente fala em Alzheimer, a primeira coisa que se vem a mente é a perca de memória. Sorte a nossa se fosse só isso. Sim, sorte.
A Doença de Alzheimer é degenerativa, progressiva e não tem cura até o momento. Um dos desafios da doença é lidar com o fato de que o idoso pode se tornar agressivo e desenvolver alguns hábitos não muito comuns, como por exemplo: Esconder objetos, retirar roupas do armário querendo ir embora, andar pela casa aleatoriamente, etc. Uma coisa que todo cuidador precisa ter em mente é:
NÃO É ELE QUEM ESTÁ FAZENDO ISSO. É A DOENÇA AGINDO.
Se eu disser que nunca perdi a paciência ou que não houve momentos de extremo estresse e cansaço, eu estaria mentindo. A paciência só vem depois de muita compreensão, e no início, tudo se torna complicado! Quando a gente compreende que não é o idoso quem faz aquilo e sim a doença... as coisas ficam mais toleráveis.
Mas para piorar no meu caso, eu tinha muitos momentos de ansiedade e angústia por conta de outros familiares, então, quando me mudei de casa e não tive mais essa convivência, o cuidado com o meu avô passou a ser incrível! Apesar da doença avançar e ele ficar cada vez mais frágil, eu pude aproveitar os bons momentos e passei a ter serenidade nos momentos de dificuldade.
Uma coisa que eu vejo sempre as pessoas reclamando, e que no meu caso eu não tive tanto esse problema (por já entender que fazia parte da doença e que um dia eu sentiria falta), é a agitação no sentido do idoso estar sempre alerta, querer mexer nas coisas, sempre ter vontade de sair e coisas do tipo:
"Ele não para de andar pela casa... O que faço pra ele ficar quieto?"
Houve uma vez em que meu avô na hora de deitar falava sem parar, como foi logo no início de sua viuvez, eu dormia junto com ele em sua cama de casal para que ele não ficasse sozinho, e claro, ajudar na hora que quisesse ir ao banheiro (ele não precisava de tanta ajuda, porém se perdia dentro do quarto com facilidade). Pois bem, na determinada data ele conversava muito e eu decidi não mais responder para ver se ele ficava em silêncio para que pudéssemos dormir. Quando achei que ele tivesse pegado no sono, ele falou:
VÔVS: Ou... ou... você já dormiu né? .... É, capaz que já dormiu mesmo... RENAN: Ainda não vô, pode falar VÔVS: Não, vou atrapalhar seu sono não... RENAN: Acha vô... o senhor não atrapalha não, pode terminar de me contar! VÔVS: Então, como eu tava te dizendo... :D Fiquei com pena da situação, que me fez refletir bastante, e foi um divisor de águas no cuidado com ele, pois, sendo uma doença degenerativa e sem cura... eu sabia que chegaria o momento em que ele não ia mais falar, nem andar, nem conseguir comer ou dizer o que sente...
Então, por mais que o cansaço as vezes tente nos vencer, é sempre bom lembrar disso:
AS FASES DA DOENÇA PASSAM. ENTÃO APROVEITE CADA UMA DELAS, ATÉ MESMO AS RUINS.
Isso nos faz passar pelas fases da doença com mais clareza, com mais atenção aos detalhes, e até mesmo com muito mais admiração. Nos últimos meses eu apreciava cada palavra que ele conseguia falar, os últimos beijos que ele conseguia dar, e eu até mesmo fechava os olhos pra ouvir melhor a voz dele, pois eu sabia que em algum momento, como parte do processo da vida... ele iria partir.
Nos momentos em que ele ficou acamado eu lembrava com saudade das vezes em que ele se levantava sozinho, de ouvir os passos dele com as sandálias arrastando pela casa, de caminhar na rua enquanto ele observava os cachorros, as plantas, as casas...
Foram momentos incríveis e que vez ou outra me cansavam por conta da rotina sem descanso. Mas que valeram muito a pena, pois quando ele foi de vez para a cama, eu pensei: "Aproveitamos os momentos em que ele conseguia ter autonomia".
Não quero que pense que estou dizendo que você deve resistir ao cansaço e persistir em ficar acompanhando o idoso... mas, comece a pensar que as fases passam, e que um dia isso tudo pode te fazer falta! Certamente te dará uma outra visão de toda a situação. Mais fácil não vai ficar... mas talvez que sabe, fique um pouco mais leve.
Enquanto a gente vive a situação, parece que ela não tem fim e o que a gente mais quer é que tudo acabe. Enquanto o problema na fase inicial é a agitação excessiva, no fim da doença, o problema se torna o contrário, a falta de mobilidade, de forças, de energia...
Muitos pensam que a gente só quer que tudo acabe para que possamos descansar dessa responsabilidade, ou seguir a nossa vida... mas quando a gente faz por amor, apesar do cansaço, a gente não trocaria nada pelo cuidado que temos com o idoso.
Adorei o comentário Renan. Eu não tenho.68 anos a3. Com AlZAIME. Se TDS que cuidaseem do idoso como vc nós não iriamos sentir tanto o mal que essa doença nos causa.